AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO RECURSO PARA INSERIR A HISTÓRIA E A FILOSOFIA DA CIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Aqui, a intencionalidade é destacar os artigos publicados por Mykaell M. da Silva, Juliana M. Hidalgo Ferreira & José Diogo dos S. Nicácio, o primeiro intitulado AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO RECURSO PARA INSERIR A HISTÓRIA E A FILOSOFIA DA CIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA e apresentado ao XV Encontro de Pesquisa em Ensino de Física; o segundo, contando também com a coautoria de Deyzianne dos S. Fonseca, nomeado HISTÓRIA DA ASTRONOMIA E NATUREZA DA CIÊNCIA EM QUADRINHOS: POTENCIALIDADES E POSSIBILIDADES DE ARTICULAÇÃO COM O LIVRO DIDÁTICO e publicado nos anais XXI Simpósio Nacional de Ensino de Física.
No primeiro artigo Mykaell M. da Silva, Juliana M. Hidalgo Ferreira & José Diogo dos S. Nicácio propõem que as "discussões sobre a inserção da História e Filosofia da Ciência (HFC) na Educação Básica permanecem atuais. Costuma-se defender uma abordagem que possibilite articular conteúdos científicos a aspectos relacionados à natureza do conhecimento científico. Nesse contexto, diversos obstáculos e desafios inerentes à transposição didática da HFC vêm sendo relatados pela literatura. No caso da elaboração de narrativas históricas para uso em sala de aula entrariam em jogo decisões a respeito da extensão e profundidade dos textos, recortes históricos, formulação discursiva, etc. Todos esses fatores demandam reflexão tendo em vista a necessidade de elaborar atividades pedagógicas interessantes e adequadas ao nível de escolaridade visado. Há ainda um obstáculo importante que vem sendo citado pela literatura: a dificuldade dos alunos em relação à leitura. À luz desses referenciais, o presente trabalho propõe refletir sobre o potencial das Histórias em Quadrinhos como alternativa para a inserção da HFC em sala de aula. Particularmente, discute-se como exemplo uma sequência de tirinhas que contempla recortes da História da Astronomia e a temática Natureza da Ciência. As Histórias em Quadrinhos constituem-se como narrativas ilustradas curtas, agradáveis, de caráter estimulador da leitura. A possibilidade de uso de recursos visuais vem em auxilio à compreensão das falas das personagens, caracterizando a fluidez de leitura desse tipo de material. A familiaridade e interesse pelo universo das Histórias em Quadrinhos fazem com que sejam um recurso propício à elaboração de propostas receptíveis e adequadas aos jovens. Dessa forma, refletir sobre como explorar a utilização desse tipo de suporte pode ser um caminho interessante."
Texto extraído de: Mykaell M. da Silva, Juliana M. Hidalgo Ferreira & José Diogo dos S. Nicácio; AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO RECURSO PARA INSERIR A HISTÓRIA E A FILOSOFIA DA CIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA - XV Encontro de Pesquisa em Ensino de Física - disponível em Acervo Drive
Já no segundo artigo, Mykaell M. da Silva, Juliana M. Hidalgo Ferreira, José Diogo dos S. Nicácio & Deyzianne dos S. Fonseca argumentam que "Em defesa da inserção da História e Filosofia da Ciência (HFC) na educação básica, especialistas vêm enfatizando a possibilidade de articular conteúdos de física a aspectos relacionados à natureza do conhecimento científico. Traz-se à tona a relevância de uma compreensão aprofundada dos conteúdos de ciência, na qual o conhecimento científico seja contextualizado como tentativa de resolução de problemas em contraposição a uma visão a problemática e a histórica da ciência. Contudo, diversos obstáculos inerentes à transposição didática da HFC vêm sendo relatados, entre os quais se situa a dificuldade dos
Já no segundo artigo, Mykaell M. da Silva, Juliana M. Hidalgo Ferreira, José Diogo dos S. Nicácio & Deyzianne dos S. Fonseca argumentam que "Em defesa da inserção da História e Filosofia da Ciência (HFC) na educação básica, especialistas vêm enfatizando a possibilidade de articular conteúdos de física a aspectos relacionados à natureza do conhecimento científico. Traz-se à tona a relevância de uma compreensão aprofundada dos conteúdos de ciência, na qual o conhecimento científico seja contextualizado como tentativa de resolução de problemas em contraposição a uma visão a problemática e a histórica da ciência. Contudo, diversos obstáculos inerentes à transposição didática da HFC vêm sendo relatados, entre os quais se situa a dificuldade dos
alunos em relação à leitura. Nesse contexto, propõe-se no presente trabalho refletir sobre potencialidades e possibilidades das Histórias em Quadrinhos como alternativa para a inserção da HFC em sala de aula em colaboração com livros didáticos usuais. Particularmente, discute-se como exemplo uma sequência de tirinhas que contempla recortes da História da Astronomia e a temática Natureza da Ciência. As Histórias em Quadrinhos constituem-se como narrativas ilustradas curtas, agradáveis, de leitura fluida. A familiaridade e interesse pelo universo dos quadrinhos fazem com que sejam um recurso propício à elaboração de propostas receptíveis e adequadas ao público jovem. A articulação com o livro didático, por sua vez, pode ser bem recebida pelos próprios professores."
Texto extraído de: acervo sbfisica
Trecho de histórias em quadrinhos produzidas no âmbito da pesquisa
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Trecho extraído de: repositório ufrn |
História em Quadrinhos Observando o Céu construída no escopo da pesquisa - extraída de: repositório ufrn
Conclusões dos autores:
No escopo do primeiro artigo, Mykaell M. da Silva, Juliana M. Hidalgo Ferreira & José Diogo dos S. Nicácio concluem que "O exemplo discutido no presente trabalho mostra uma sequência de tirinhas que contempla recortes da História da Astronomia e a temática NdC. A proposta pode ser adequada para a disciplina de Física ou ainda para o ensino de ciências, no contexto da educação básica. É pautada pela intenção de mostrar uma “ciência viva”, enfatizando o empenho dos personagens em resolver problemas. A ciência aparece como atividade humana socialmente construída em um contexto cultural. Busca-se, assim, uma compreensão ampla da ciência na sociedade.
Na elaboração dos quadrinhos, foi preciso lidar com desafios citados pela literatura a respeito da inserção da HFC no contexto educacional: recortes históricos, seleção de mensagens sobre a natureza da ciência, formulação discursiva, etc. Nas HQ a extensão dos trechos escritos é peculiarmente limitada. Essa característica constitui uma dificuldade importante para a sua elaboração tendo em vista a abordagem de conteúdos histórico-filosóficos, geralmente complexos e pouco conhecidos pelos alunos. Importante notar, ainda, que essa extensão é ainda mais restrita do que no caso dos textos histórico-pedagógicos ou narrativas históricas, os quais constituem atualmente um dos recursos mais utilizados para a inserção da HFC em salas de aula. Por outro lado, nas HQ, a possibilidade de uso de recursos visuais vem em auxilio à compreensão das falas das personagens, caracterizando a fluidez de leitura desse tipo de material. Sendo assim, as HQ podem colaborar para a superação de um obstáculo importante citado pela literatura que trata da inserção da HFC no contexto educacional: a dificuldade dos alunos em relação à leitura. As Histórias em Quadrinhos costumam fazer parte do cotidiano dos jovens. A familiaridade e interesse pelo universo das HQ fazem com que sejam um recurso propício à elaboração de propostas receptíveis e adequadas ao nível de escolaridade desse público específico. Dessa forma, refletir sobre como explorar a potencialidade desse tipo de gênero textual pode ser um caminho interessante para a educação básica."
Texto extraído de: Mykaell M. da Silva, Juliana M. Hidalgo Ferreira & José Diogo dos S. Nicácio; AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO RECURSO PARA INSERIR A HISTÓRIA E A FILOSOFIA DA CIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA - XV Encontro de Pesquisa em Ensino de Física - disponível em Acervo Drive;
Em relação à segunda publicação Mykaell M. da Silva, Juliana M. Hidalgo Ferreira, José Diogo dos S. Nicácio & Deyzianne dos S. Fonseca encerram afirmado que "A presente seção discute acerca da possibilidade de articulação das tirinhas com livros didáticos do Ensino Médio. Aponta-se na direção de intervenções que busquem explorar as potencialidades da HQ apresentada, de forma que essa se constitua como material complementar, colaborando com livros didáticos atuais. Dessa forma, não se advoga descartar o que já se tem, mas sim, indica-se o apoio da HQ no sentido de proporcionar uma melhor compreensão do processo de construção do conhecimento científico. Essa perspectiva colaborativa se fundamenta em aspectos apontados em pesquisas empíricas: a importância dos livros didáticos como uma das principais fontes para alunos e professores; fragilidades e lacunas em livros didáticos, ainda que esses não sejam completamente desprovidos de elementos da História e da Filosofia da Ciência (PAGLIARINI; SILVA, 2006; BATISTA; MOHR; FERRARI, 2007).
A fim de refletir sobre possíveis articulações, procurou-se observar em uma amostra restrita de livros didáticos de Física para o Ensino Médio possíveis referências às temáticas específicas da HQ elaborada. Notou-se um aspecto positivo, tendo em vista que trechos relacionados à História da Astronomia na Grécia Antiga foram encontrados em todos os livros analisados: (A) TORRES; FERRARO; SOARES, 2010, p-240-242; (B) MÁXIMO; ALVARENGA, 2003, p. 71; (C) SANT’AANNA; MARTINI; REIS; SPINELLI, 2010, p. 256-257; (D) MÁXIMO; ALVARENGA, 2011; p. 198-199; (E) KAZUHITO; FUKE, 2010, p. 326. 6 Por outro lado, em todos esses trechos, lacunas significativas no que tange à História e Filosofia da Ciência foram percebidas, sobretudo no que diz respeito a simplificações que obscurecem aspectos significativos da Natureza da Ciência, os quais poderiam ser explorados.
Os livros A, B, C e B analisados trazem introduções históricas sobre sistemas de mundo, as quais se iniciam com alusões a modelos propostos na Grécia Antiga. A título de exemplo do que se nota de forma recorrente, cita-se frase que abre texto de conteúdo histórico em um deles: “Os primeiros modelos propostos para explicar as observações sobre o céu foram apresentados pelos gregos” (SANT’AANNA; MARTINI; REIS; SPINELLI, 2010, p. 256). Seguindo esse tipo de indicação rápida, os livros introduzem de imediato os modelos, isto é, produtos da ciência grega, deixando de lado os processos envolvidos em seu desenvolvimento. Não fazem alusão às visões de mundo gregas, pressupostos teóricos, culturais, que se manifestavam em expectativas de que as estrelas mantivessem posições relativas fixas. Não evidenciam o caráter surpreendente da identificação de movimentos inesperados de determinadas estrelas, as quais passaram a chamar “planetas”. Dos exemplares analisados, apenas o livro E não explicita de forma imediata os modelos gregos. Esse livro traz observações que os antecediam, mas, em contrapartida, não explica o impacto dessas observações. Não indica o que significavam para os gregos em termos de choques com suas visões de mundo e a consequente relação com as tentativas de conceber modelos. Lê-se, unicamente:
A maior parte das estrelas mantinha, aparentemente, posições fixas entre si. As “estrelas” que não se comportavam dessa maneira foram denominadas planetas (significado errantes) (KAZUHITO; FUKE, 2010, p.323).
A identificação de que determinadas estrelas se comportavam de modo diferente das outras parece ter como implicação apenas a necessidade de nomenclatura adicional. Perde-se, assim, a oportunidade de discutir questões relacionadas à natureza do conhecimento científico.
Os exemplares analisados deixam lacunas significativas que merecem ser exploradas em intervenções didáticas. Os modelos não transparecem como; Esses trechos aparecem em capítulos sobre conteúdos como movimento curvilíneo, gravitação e leis de Kepler. Listamos os livros identificando-os com letras a fim de facilitar alusões aos mesmos. Parecem resultados simples, imediatos, não se sabe de quê. Pode-se perguntar, então, acerca de aspectos importantes não trazidos pelos livros: Mas o que seriam “modelos”? O que estaria por trás dessas tentativas de explicar os movimentos dos astros por meio de modelos? A que problemas esses modelos (produtos) respondem? Por que justamente tentaram composições de movimentos circulares?
A expectativa de que os movimentos estranhos dos planetas pudessem ser explicados com base em composições de movimentos circulares, os ideais de perfeição e regularidade, elementos culturais importantes, que alicerçavam a ciência grega são deixados de lado pelos livros didáticos. Perde-se uma oportunidade interessante de mostrar uma “ciência viva”, que enfatize o empenho dos personagens em resolver problemas. Perde-se a oportunidade de apresentar a ciência como atividade humana socialmente construída em um contexto cultural. Perde-se, ainda, a oportunidade de introduzir aspectos que dirigiriam a uma compreensão contextualizada do próprio conceito de modelo, o qual perpassa os demais conteúdos do Ensino Médio como um elemento central para a própria Física.
Como a HQ destacada na seção anterior procura mostrar as tentativas gregas de conceber modelos de mundo são carregadas de pressupostos teóricos interligados a elementos culturais da época. As irregularidades eram problemas a resolver e deveriam ser compreensíveis, isto é, reduzidas a regularidades. Em sala de aula, seria interessante que o professor buscasse esses elementos que (como se pôde observar) vão além do que o livro didático costuma trazer, estimulando questionamentos que remetam ao processo de construção do conhecimento. Assim, é justamente atuando nas lacunas observadas que a sequência de tirinhas proposta pode exercer um papel complementar ao livro didático: explorando elementos da natureza do conhecimento científico, visando a uma compreensão mais ampla da ciência na sociedade.
O exemplo discutido no presente trabalho busca refletir sobre as potencialidades e possibilidades das HQ com gênero interessante para a inserção da HFC na educação básica. A familiaridade e interesse pelo universo dos quadrinhos fazem com que sejam um recurso propício à elaboração de propostas receptíveis e adequadas ao público jovem. A articulação com o livro didático, por sua vez, pode ser bem recebida pelos próprios professores."
Texto extraído de: acervo sbfisica
Artigos
Capítulo de livro:
História da Ciência e natureza da Ciência em quadrinhos: complementação a lacunas em livros didáticos de Física
Juliana M. Hidalgo
Mykaell Martins da Silva
José Diogo dos Santos Nicácio
Deyzianne Santos Fonseca