JOÃO RAMOS: O cômico e a física no ensino e na divulgação da física

 O cômico e a física: o riso, a quebra de expectativa e o absurdo no ensino e na divulgação da física

Aqui, a intencionalidade é dar destaque à tese de doutorado O cômico e a física: o riso, a quebra de expectativa e o absurdo no ensino e na divulgação da física de JOÃO EDUARDO FERNANDES RAMOS, apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Doutor em Ensino de Ciências na modalidade Ensino de Física Área de Concentração: Ensino de Física. Orientador: Prof. Dr. Luís Paulo Piassi.

JOÃO EDUARDO FERNANDES RAMOS inicia seu trabalho nos indagando: "É possível rir da ciência? Qual seria a relação entre o cômico e a ciência? Onde está o humor na ciência? No âmbito do ensino, os alunos riem das piadas com física? É preciso entender ou saber conceitos de física para entender a piada? É pensando nestas questões que articulamos a presente pesquisa, que visa estudar a relação entre o humor e a ciência e suas implicações didáticas. Para tanto, iniciamos nossa pesquisa a partir de um estudo das teorias sobre o humor e sua evolução ao longo da história, seguida de um levantamento de obras, tais como: O Guia do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams, As cosmicômicas de Italo Calvino, tiras e charges, entre outras, nas quais enxergamos uma aproximação entre ciência e humor. Com a base teórica, investigamos os resultados de intervenções didáticas nas quais foram utilizados materiais midiáticos pesquisados. Para a elaboração e realização das atividades e da pesquisa, nós nos apoiamos em uma metodologia que engloba três etapas: análise, formulação e aplicação/intervenção. Em que na primeira, o material é estudado, em seguida é realizada a produção de uma proposta de atividades, que, por fim, é realizada em um espaço educacional, seja ele formal ou não. No presente trabalho, a investigação foi realizada em dois momentos distintos. O primeiro envolvendo estudantes do ensino superior, tanto da Escola de Artes Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, quanto da Universidade Júlio de Mesquita Filho - UNESP, Campus Rio Claro, e no segundo com alunos do ensino fundamental II, no âmbito do projeto Banca da Ciência na Escola. Como resultado, concluímos que, no geral, a relação entre humor e ciência se encontra fora da ciência, e relacionada com outros conteúdos. Pudemos observar que, de fato, há uma estreita relação entre o riso e a compreensão de um conteúdo científico, e, que o humor, devido a sua aproximação com o lúdico, possibilita, e necessita, um espaço dinâmico para a sua utilização. Portanto, o humor apresenta um papel importante tanto no processo de ensino-aprendizagem quanto no engajamento à ciência."
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Tiras selecionada pelo autor para desenvolver o estudo

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Conclusões do autor

"É chegado o momento de realizar um fechamento de tudo o que foi vivenciado nessa pesquisa. É, portanto, um momento de reflexão Nossa pesquisa se propôs investigar a presença do humor e o riso na ciência, mais especificamente na física, e a sua utilização no ensino e na comunicação da física. Refazendo nossa trajetória, iniciamos com uma justificativa sobre o tema e a sua importância, onde vimos que existem algumas propostas sobre a aproximação do humor e da física para o ensino. Seguimos apresentando a nossas dúvidas e questões sobre o tema e a metodologia que fora construída, junto ao nosso grupo de pesquisa, para investigação do tema. Metodologia que, como comentado, buscar ser um caminho para a realização de práticas nas quais produtos midiáticos são utilizados como ferramenta didática. Basicamente a proposta metodológica envolve três etapas nas quais estariam englobados a produção didática, a análise, formulação e intervenção. Disso, partimos para um percurso histórico no qual detalhamos alguns dos principais estudos sobre o riso e o risível. Desse percurso, vimos que, de maneira geral, as teorias sobre o humor podem ser categorizadas em três principais grupos, a teoria da superioridade, do alívio e da incongruência  (GORDON, 2014). Esse percurso histórico, também nos permitiu observar que a ciência já foi alvo de zombaria em outros momentos, como na idade média. Desse percurso, partimos para um estudo linguístico do humor, que tem como característica a associação de dois discursos distintos, mas que, a partir de um “gatilho” ganham um sentido semelhante, gerando uma quebra de expectativa. Essa ideia de associar dois discursos como caminho para instauração do humor, também foi vista como explicação de Koestler (1964) para as grandes descobertas científicas e obras artísticas, a partir da chamada biassociação. Fomos em seguida em busca de estudos e referências sobre o humor na educação e na escola. Vimos que as propostas e os resultados são bastante variados, o que, a nosso ver, demonstra uma certa dificuldade na abordagem do tema. No geral, os trabalhos apontam a importância de se trabalhar com um humor apropriado e que não seja depreciativo, que o humor gera um ambiente favorável ao diálogo, e que pode ajudar na aprendizagem. Sobre a utilização do humor na educação, destacamos o trabalho de Melissa Wanzer (et al, 2010), que propõe um elaborado esquema para compreensão sobre as premissas que podem fazer com que o humor funcione como um suporte didático. Com essa base teórica, partimos para a apresentação de alguns exemplos da aproximação entre ciência e humor. Para tanto, buscamos em diferentes suportes midiáticos, como cinema, televisão, música, literatura, quadrinhos e internet, exemplos desta aproximação. Consideramos também alguns exemplos da própria história da ciência na qual alguns cientistas tiveram uma postura cômica e fora do comum, como no caso de Feynman e Gamow. Todos os exemplos vistos, neste levantamento, são, de alguma maneira, potenciais materiais para intervenções didáticas, embora, deva ficar claro, que os autores das obras e piadas não estavam, em sua grande maioria, pensando no ensino quando produziram os materiais em questão. Por este motivo que é importante levar em consideração uma metodologia em que uma transposição deste conteúdo para práticas educativas esteja programada. Curiosamente, como analisou Possenti (2015), poucos exemplos realmente criam um humor que mostre a ciência de outra forma, que de alguma maneira descontrua as teorias científicas. Nesse sentido, vemos que a obra de Italo Calvino é a que melhor “desmonta” a ciência, ao propor, por exemplo, pensar as pessoas espremidas no universo antes do Big Bang. Assim, a ciência se torna o ponto de partida para possibilidades absurdas, ou não. No caso de alguns exemplos do Calvin, como a explicação do seu pai para a relatividade, os conceitos são apresentados de uma forma diferente, mas, o que acaba chamando atenção é o fato delas estarem erradas, e ele, o pai, se aproveitar disso para enrolar o Calvin. Nos exemplos observados, ficou claro, portanto, que diversos elementos do universo da ciência, e externos a este, acabam sendo utilizados para fins humorísticos. Ou seja, usar o bóson de Higgs para falar de política, por exemplo. Ao mesmo tempo, muitos exemplos acabam se utilizando de estereótipos, como o cientista de jaleco, homem, e desorganizado, como apresentado em algumas charges e programas como o seriado The Big Bang Theory. No entanto, estes estereótipos não necessariamente invalidam a qualidade humorística de algumas obras, mas, são pontos que merecem sem indicados e problematizados. Sobre o humor virtual, vale pontuar a dificuldade na organização de materiais. Mas, na verdade, trata-se de uma boa dificuldade, pois, a cada semana surgem novas piadas ou memes sobre ciência. Nesse sentido, reconhecemos que, talvez, seja necessário um estudo específico sobre o tema. Saindo desta dimensão teórica, partimos para um estudo de práticas docentes. Esta pesquisa se deu a partir do relato e análise de atividades elaboradas para intervenções didáticas nas quais o humor se fizesse presente a partir das obras midiáticas exemplificadas. Foi um estudo que ocorreu em instantes diferentes e com públicos distintos, inicialmente envolvendo estudantes do Ensino Superior, de física e de outros cursos, e, num segundo momento, com alunos do Ensino Fundamental II. De certa maneira, as práticas foram semelhantes, no entanto, a diferença de contexto nos levou a alguns resultados variados. Um ponto, por exemplo, que se diferenciou entre as aplicações foi a nossa visão educacional, por passarmos a considerar trabalhar na interface entre ensino e comunicação científica. Isto fica mais evidente a partir do nosso trabalho junto ao projeto da Banca da Ciência na Escola. Ou seja, a Banca da Ciência é um projeto de comunicação científica que pode ocorrer em diferentes contextos, feiras, amostras, congressos, parques, entre outros. Mas, quando pensamos nessa comunicação na escola, como podemos definir? Ainda é uma comunicação, mas o objetivo pode variar entre o ensino e a divulgação. Assim, passamos a observar que nossas práticas com o humor encontravam um terreno mais fértil no segundo caso, em que trabalhávamos com a comunicação no ambiente da escola. Tendo realizado essa breve digressão de nosso percurso, podemos olhar novamente para nossas questões iniciais e identificar as repostas que obtivemos a elas. Inicialmente nos questionamos, que outros exemplos, além do seriado The Big Bang Theory apresentam a ciência com humor? Onde está o humor na ciência? E como realizar intervenções com humor para a sala de aula e o que fazer para que o riso esteja presente? Como avaliar se o riso possibilitou a aprendizagem ou uma mudança de atitude em relação a ciência? As duas primeiras questões estão voltadas a um estudo teórico do humor, o que de certa maneira foram respondidas a partir do levantamento e da análise de diferentes materiais encontrados na mídia, como “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, as tiras humorísticas de “Calvin e Haroldo” e das “Cobras”, nos filmes, canções e na internet. Já o humor na ciência, como comentado, se encontra, praticamente, fora da ciência. É um humor que usa a ciência e seu contexto para tratar de temas variados. No caso das outras questões, que são mais voltadas para a prática docente, vimos que as intervenções podem ser variadas, mas, para que o riso esteja presente é importante um espaço de troca e confiança. Assim, não basta colocar um nariz de palhaço, como na imagem abaixo, e sair rindo. Levar um material engraçado ajuda a instaurar o riso, mas, práticas dinâmicas e lúdicas são um “tempero” importante para que o humor se faça presente. No entanto, é importante levar em consideração que o riso, em alguns casos, pode ser algo sutil, ao invés de uma gargalhada estrondosa.  Quanto a questão da avaliação, não elaboramos ferramentas de pesquisa para averiguar se o humor possibilitou, ou melhorou, a aprendizagem da física. No entanto, em relação à mudança de atitude, podemos afirmar que o riso contribui como um elemento motivador dessa mudança. Seja nas referências citadas ou nas atividades que desenvolvemos, é possível perceber, essa mudança de atitude. No caso da leitura, um estudante se interessar pelo livro por ele ser engraçado é um indicativo; um aluno que passa se divertir com uma atividade na qual contenha algum conceito científico, como no caso jogo com as canções, também é um indicativo desse engajamento. E o mesmo pode ser dito dos graduandos que aturam como monitores, mesmo os que não gostavam de ciência, passaram a vê-la com outro olhar quando passaram a produzir intervenções. Esta motivação, a nosso ver, é papel tanto do ensino formal quanto da comunicação científica. No entanto, acreditamos que, nos aproximamos mais da comunicação uma vez que no ensino formal, eventualmente, há um momento de avaliação formal, o que não acabamos realizando no projeto ALICE, e nem é a proposta do projeto que essa avaliação formal ocorra. Em contraposição, as práticas realizadas na EACH/USP junto à disciplina de Ciência da Natureza, possuíam um caráter formal, posto que as atividades estavam atreladas a uma nota. Neste sentido, vemos como uma importante contribuição para a área de pesquisa em ensino, mostrar que, realmente, o riso tem um lugar importante no processo educacional, justamente por contribuir para o engajamento com o conteúdo e na relação entre educador e educando. Ao mesmo tempo, vemos que a proposta do projeto da Banca da Ciência na Escola, pode contribuir na produção de espaços para fomentar a interdisciplinaridade, como o exemplo da nossa aproximação entre ciência e arte, passando pelo humor. Como defendido no texto, o espaço formal da aula já apresenta diversas atribuições, de maneira que atividades em espaços não formais, ainda que dentro do ambiente escolar, permitem um “respiro”, além do currículo obrigatório. Iniciativas como a escola de tempo integral podem contribuir com a utilização destes espaços, no entanto, boa parte das horas do período integral ainda são ocupadas por aulas obrigatórias e atividades formais. Evidentemente que nenhuma pesquisa ocorre sem obstáculos. No nosso caso, a implementação do projeto ALICE e a presença dos alunos nas atividades foi algo que tivemos que aprender a contornar e solucionar. O curioso é que justamente este obstáculo nos permitiu observar a importância de repensarmos nossa prática, afinal, como apontam Maria Santana e Carla Queiros (2010, p. 8-11), “a metodologia de sala de aula que trabalha como riso, não pode ser meramente expositiva, porquanto, o educando precisa sair da passividade”. Isso, de certa maneira, está em ressonância com a defesa de Larrosa (2010) em profanar a escola. E, a partir desta mudança, passamos a conseguir a presença de mais alunos nas atividades. Além deste, o próprio cotidiano da escola é algo que é importante de aprender e levar em consideração. Calendário de festas e feriados, são pontos que podem mudar a rotina dos alunos. Mas, independente desses contratempos, os alunos que se interessavam iam. Pode parecer pouco, mas é um engajamento importante, motivar o estudante a ir antes de sua aula para a escola participar de uma atividade de ciências, diferente de um esporte, por exemplo. De certa maneira a produção de atividades pode ser encarada com um possível obstáculo, também. Pois, não é simples elaborar intervenções, mas é uma vivência que todos docentes, em algum momento na sua formação, devem viver. No caso dos monitores que acompanharam o projeto, este obstáculo foi algo importante para a sua formação. As demais atividades, realizadas com o ensino superior, tiveram alguns contratempos na hora de serem postas em prática, mas, tudo isso, a nosso ver, faz parte da pesquisa. Além dos contratempos, algumas das intervenções acabaram não dando certo. Seja devido à pouca participação dos alunos ou pelo pouco tempo para planejamento. Outro ponto que não funcionou como esperávamos foi o envolvimento com os professores. Gostaríamos de tê-los envolvido mais nas elaborações. Por outro lado, essa falha foi revista e, atualmente, os professores atuam de forma mais ativa no projeto. Para cada um dos subgrupos do projeto ALICE, há um professor responsável que deve, juntamente com os monitores, desenvolver atividades e realizar intervenções. Esta nova organização tem proporcionado uma rica troca entre os monitores e os professores, além de permitir um maior protagonismo dos docentes nas decisões das atividades. Nossa pesquisa, embora trate do humor no ensino, apresenta uma limitação devido ao fato de não termos trabalhado com estudantes do Ensino Médio, e de outros cursos de ensino superior que possuem a disciplina de física, como o caso das engenharias, por exemplo. Não há dúvidas que estes públicos possuem características próprias que podem levar a resultados diferentes. No entanto, este limite, pode, justamente, dar margem a um desdobramento da pesquisa que é investigar o humor nestes níveis e cursos. Um ponto que também merecia ser investigado, que acabamos não realizando, seria conhecer o tipo de humor que é consumido tanto por alunos quanto por professores. Como desdobramentos, também é possível investigar o humor nas outras ciências como química, biologia e também nas demais ciências humanas como história, geografia, sociologia, entre outras. Pois, algo que ficou bastante claro ao longo de nossa pesquisa, foi que, de fato, o humor consegue, de alguma maneira, aparecer em diversas áreas, ou seja, tudo pode ser, ou se  tornar, risível. E, como as diferentes áreas vão possuir suas especificidades didáticas, investigar a presença do humor nessas áreas também é extremamente importante. Além destes aspectos ligados ao humor, um estudo sobre os espaços não formais dentro do ambiente formal da escola, pode vir a contribuir tanto para o ensino formal quando para o estudo da comunicação científica. Esta interface entre o formal e o não formal, na escola, pode render bons frutos, pois, a comunicação científica, no geral, não se preocupa com a evolução gradual dos conceitos para trabalhar algum tema. Dessa maneira, é possível abordar temas antes que o ensino formal o faça, um exemplo disso acontece com os filmes e em outros materiais como os apresentados ao longo de nossa tese. Por tanto, encerramos, nosso texto apontando que sim, é possível aproximar o humor da ciência e construir intervenções didáticas. Evidente que não é qualquer tipo de humor que podemos utilizar, e isso deve ser pensado com cuidado, afinal, o humor e o riso não são atividades inofensivas, posto que o humor pode machucar e ao mesmo tempo transformar. Ultimamente, tem-se criticado a bandeira do politicamente correto, como uma forma de censura, no entanto, como já afirmamos, uma piada é engraçada a depender de que lado você está dela."

Texto extraído de: teses usp

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