ANA VALENTIM: o discurso do cientista em “As aventuras de Tintim”

A DIVULGAÇÃO CIENTIFICA NOS QUADRINHOS COMO OBJETO DE MEMÓRIA: o discurso do cientista em “As aventuras de Tintim”

Aqui, a intenção é divulgar a dissertação de mestrado de  ANA PAULA SIMONACI VALENTIM intitulada: A DIVULGAÇÃO CIENTIFICA NOS QUADRINHOS COMO OBJETO DE MEMÓRIA: o discurso do cientista em “As aventuras de Tintim” e apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Memória Social sob a supervisão da orientadora: Profª. Dr.ª Evelyn Goyannes Dill Orrico. Também lançamos destaque aos artigo A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DO DISCURSO SOBRE O CIENTISTA: METÁFORAS NA AVENTURA DE TINTIM “RUMO À LUA”  de ANA PAULA SIMONACI VALENTIM apresentado e publicado nos anais das 2ªs Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos.

 ANA PAULA SIMONACI VALENTIM nos apresenta em sua pesquisa "a imagem do cientista retratada nas histórias em quadrinhos. Este estudo interessa ao campo da memória, tendo em vista que parte do pressuposto de que o modo como o cientista é retratado nas HQs é uma maneira de construir/reforçar sua imagem no âmbito de sociedade. Admite-se que as HQs são objeto imagético cultural operador de memória social, podendo traduzir a visão de mundo de seu tempo, além de estar inserida como produto cultural no contexto dos Estudos Culturais Latino-Americanos. Este estudo interessa também no âmbito da divulgação cientifica, pois as HQs que falam de ciência servem como instrumento de divulgação cientifica. Assim, este trabalho objetiva compreender como a imagem do cientista vem se modificando ao longo da história das narrativas ficcionais e dos relatos a respeito dos cientistas, na tentativa de compreender como essa presença contribui para a construção de uma memória sobre ciência. Especificamente, o universo de análise constitui-se d”As aventuras de Tintim”, de Hergè, com seus 13 álbuns publicados entre 1929 e 1983, com enorme repercussão mundial. No Brasil, seus álbuns são publicados desde 1970 e contam com novas edições, ainda sendo comercializadas. O corpus constitui-se de dois álbuns, das edições brasileiras, de “Rumo à Lua” e “Explorando a Lua”. Á luz da Análise do Discurso Francesa, de Michel Pêcheux, o foco está no discurso do personagem Professor Trifólio Girassol que, na história selecionada, constrói um foguete para chegar até a Lua, junto com Tintim, Capitão Haddock e Milu. Este estudo visa contribuir tanto para o campo das histórias em quadrinhos, como para o campo da divulgação cientifica, e ainda para o campo da relação entre memória e linguagem. Apresenta ferramentas para análise de discurso de divulgação científica que podem ser utilizadas em outras histórias em quadrinhos."

Texto extraído de: Acervo Unirio

Trecho das histórias em quadrinhos analisadas na pesquisa


Trecho da história em quadrinhos - Rumo à Lua - disponível em: Acervo HERGÉ


Trecho da história em quadrinhos Explorando a Lua - disponível em: ACERVO HERGÈ

Conclusões da autora: 

"Quando nos propusemos a escrever esta dissertação na tentativa de examinar o discurso do cientista nas histórias em quadrinhos pela Análise do Discurso, considerando suas relações com a memória social e sua relação com a divulgação científica, apontamos alguns problemas a serem resolvidos. Ao nos perguntarmos se o discurso do cientista, e os discursos sobre o cientista na ficção, especialmente nas histórias em quadrinhos, tinham relevância no âmbito da memória social, em um primeiro momento, nos debruçamos sobre as teorias de Halbwachs para entender o que era memória social e qual a relação da memória com as histórias em quadrinhos.  Por intermédio dos estudos de Pêcheux sobre discurso, e da relação que Courtine faz com a memória social através do conceito de memória discursiva, percebemos a relação existente entre discurso e memória social, que se estabelece nos vieses da repetição e da comemoração, sendo a primeira no âmbito do interdiscurso, principalmente na citação e na relação com as formulações de um texto originário e no domínio da memória, e a segunda, na comemoração, que se refere a um processo em que há uma ligação direta entre o que está sendo dito e sua referência histórica do passado. Vimos que essa relação é reforçada nos discursos que se repetem em relação ao cientista ao longo da história de sua representação ficcional. Então, analisar o discurso do cientista nas histórias em quadrinhos nos permite entender quais construções memoriais os grupos de leitores de quadrinhos Considerando que as histórias em quadrinhos são compostas por imagem e texto, achamos pertinente recorrer aos estudos de Jean Davallon sobre imagem como produto cultural para estabelecermos a relação da imagem com a memória social. Para fazer essa ponte, foi necessário também entender as histórias em quadrinhos como um produto cultural híbrido, a partir dos estudos de Canclini.
Assim, concluímos e embasamos a relação dos quadrinhos com a memória social, tanto pelo viés discursivo, quanto pelo imagético.  Para isso, afirmamos que as HQs são um bem cultural, que apresentam vasto número de leitores, uma ampla vendagem, com leitores de todas as idades, colecionadores e apreciadores. Essas histórias são capazes de manter uma memória que é retomada e que se mantém na consciência do grupo constituído pelos seus leitores.  Concluímos também que nas histórias em quadrinhos, as imagens geram liberdade de interpretação, mas dirigem o leitor para um determinado lugar, porque além da imagem, o textual contribui para reprimir a polissemia da imagem, reforçando a condução do leitor ao longo da narrativa. As imagens nas histórias em quadrinhos são dispositivos que carregam um programa próprio e abrem uma (re) construção de origens míticas inscritas em sua própria forma de ser interpretada.  Tanto de forma textual, como imagética, as HQs convidam o leitor a dar sentido a elas, formam um acordo de olhares e compartilham o mesmo ponto de vista. Ainda buscando responder a esta indagação foi necessário compreender o discurso do cientista e os discursos sobre ele na ficção. Então, em um segundo momento, analisamos quais eram os discursos a respeito dos cientistas ficcionais ao longo da história, e percebemos que este reforça uma imagem de loucura e inabilidade por parte do cientista. Concluímos que os discursos nos enredos dos enunciados que circulam em torno dos cientistas ficcionais mantêm uma relação estreita com a loucura e com o medo da ciência, de modo que a forma como o cientista ficcional é retrado reflete, por exemplo, os medos da humanidade em relação ao poder e a falta de controle que a ciência pode alcançar.
Para entender o discurso especificamente em torno do personagem que analisamos, procuramos entender um pouco a respeito sobre os cientistas nos quadrinhos franceses, e percebemos que dentro desse quadro, o personagem corresponde ao padrão da imagem de cientista no que se refere a ser do sexo masculino, ser distraído, usar óculos, usar roupas simples e sóbrias e ser retratado com uma idade avançada. O personagem é um reflexo da imagem a respeito do cientista de determinada época da literatura popular, no entanto, o Professor Girassol destoa dos vilões cientistas. Inicialmente, nos perguntamos também se o discurso desse personagem desempenha a função de divulgação cientifica. Para responder a essa questão buscamos compreender, em primeiro lugar, como se dá a divulgação científica nas histórias em quadrinhos. Buscamos apresentar um breve histórico da divulgação cientifica na literatura e nos apoiamos no conceito de divulgação científica de Orrico, assim, considerando que todo suporte que transmite, para um público abrangente de não especialistas, o que é produzido pela ciência está funcionando como ferramenta de divulgação científica; nesse caso, as histórias em quadrinhos podem cumprir essa função. A partir disso, ainda buscando responder a esta indagação, propomo-nos a entender qual seria a relação das histórias em quadrinhos com a ciência. E a partir das proposições de Vergueiro, percebemos a trajetória das histórias em quadrinhos que tratam de ciência e ficção científica. Constatamos que os quadrinhos contribuem na disseminação do avanço da ciência por meios lúdicos, e que além de terem sido utilizados no ensino de ciências, com fins didáticos e pedagógicos, também contribuem na conscientização do desenvolvimento científico, prevendo inovações tecnológicas, e colaborando na aceitação e disseminação de ciência na sociedade contemporânea. Entendendo a relação dos quadrinhos com a ciência, fomos em busca de compreender o funcionamento do discurso de divulgação cientifica neste suporte. Para isso, através dos estudos de Grigoletto sobre análise do discurso, entendemos que o discurso de divulgação científica está localizado em um espaço intervalar, entre a ciência, a mídia e o leitor. Para chegar a essa ponte, nos debruçamos sobre o conceito de verossimilhança, que contribui em reforçar a autoridade do discurso do cientista, na medida em que este é um personagem ficcional. "

Texto extraído de Acervo Unirio

Dissertação

Artigo: A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DO DISCURSO SOBRE O CIENTISTA: METÁFORAS NA AVENTURA DE TINTIM “RUMO À LUA” - Ana Paula Simonaci Valentim

No artigo Ana Paula Simonaci Valentim "pretende-se analisar as representações do cientista no universo das histórias em quadrinhos, utilizando como veículo as narrativas que envolvem o personagem Professor Trifólio Girassol, no álbum “As aventuras de Tintim - Rumo à Lua”, publicados por Hergé em 1954, com base nas metáforas utilizadas por um personagem considerado leigo em ciência, o Capitão Haddock. A representação do cientista nesse universo é marcada por figuras de loucos, gênios, distraídos, heróis ou, até, homens perigosos; é, portanto, uma imagem contraditória e complexa. Isto decorre do fato de que a ciência costuma ser retratada pelas artes, pelas mídias e pela literatura como uma aventura humana carregada de inquietações, rica de promessas e de perigos e fonte de um conhecimento objetivo e democrático, embora, ao mesmo tempo, místico e, aparentemente, inalcançável para a maioria das pessoas. As representações de cientistas, veiculadas pela divulgação científica em imagens e textos, nesse sentido, são reais tanto para a ciência quanto para o senso comum. São substituições do próprio cientista. A escolha de valorizar o estudo das representações sociais como forma analítica nas áreas da divulgação científica tem como base a crença de que essa valorização representa um avanço, significa efetuar um corte epistemológico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento de como a imagem da ciência se constrói no universo das histórias em quadrinhos. Neste artigo, pretende-se analisar as representações do cientista no universo das histórias em quadrinhos, utilizando como veículo as narrativas que envolvem o personagem Professor Trifólio Girassol, no álbum “As aventuras de Tintim - Rumo à Lua”, publicados por Hergé em 1954, com base nas metáforas utilizadas por um personagem considerado leigo em ciência, o Capitão Haddock. A representação do cientista nesse universo é marcada por figuras de loucos, gênios, distraídos, heróis ou, até, homens perigosos; é, portanto, uma imagem contraditória e complexa. Isto decorre do fato de que a ciência costuma ser retratada pelas artes, pelas mídias e pela literatura como uma aventura humana carregada de inquietações, rica de promessas e de perigos e fonte de um conhecimento objetivo e democrático, embora, ao mesmo tempo, místico e, aparentemente, inalcançável para a maioria das pessoas. As representações de cientistas, veiculadas pela divulgação científica em imagens e textos, nesse sentido, são reais tanto para a ciência quanto para o senso comum. São substituições do próprio cientista. A escolha de valorizar o estudo das representações sociais como forma analítica nas áreas da divulgação científica tem como base a crença de que essa valorização representa um avanço, significa efetuar um corte epistemológico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento de como a imagem da ciência se constrói no universo das histórias em quadrinhos."


Trecho das histórias em quadrinhos analisadas na pesquisa

Trecho Les aventures de Tintim - Rumo à Lua – Partes I e II

Trecho Les aventures de Tintim -  Explorando a Lua – Partes I e II

Conclusões da autora:

"Vimos como se dá a construção da representação dos cientista nas HQs. E, em seguida, explicitamos um breve relato sobre o autor Hergé, a obra “Rumo à Lua” e o personagem Professor Trifólio Girassol. Explicitamos brevemente como se dá a construçãoda linguagem nas HQ, para em seguida, buscando introduzir uma breve noção de construção de significado, relacionarmos a linguagem com identidade e ideologia, com base nas teorias de Michel Pêcheux e Mikhail Baktin, demonstrando que todos nós sofreríamos influência das forças sociais, razão da eficiência da nossa análise acerca das representações metafóricas na relação entre o leigo e o cientista. Trabalhamos a metáfora, a partir de Lakoff e Johson, admitindo que a organização mental é realizada por intermédio da construção de esquemas de conhecimento de mundo, socioculturalmente estabelecidos e que, para serem representados devem ser compartilhados pelos membros do grupo social.  Por fim, ao analisarmos as metáforas na representação do personagem Professor Trifólio Girassol, na categoria de cientista, feitas pelo personagem Capitão Haddock, por sua vez, na categoria de público leigo em ciência, constatamos que todas as metáforas utilizadas no álbum “Rumo à Lua”, têm cunho depreciativo, considerando o cientista como um louco, que não deve ser levado a sério, desajeitado, com idade avançada e cheio de fantasias e abstrações." 



Comentários

As + visitadas da semana

Tirinhas para ensino de física: Eletrostática

Tirinhas para ensino de física: Termometria

PROJETO QUÍMICA EM QUADRINHOS - UNEB: MUNDO DOS ÁTOMOS

Tirinhas para o ensino de Física: Modelos Atômicos

Tirinhas para ensino de física: Astronomia

Tirinhas para ensino de física: Gravitação Universal

Práticas Didáticas: Calor e Temperatura

Tirinhas para ensino de física: Metodologia científica

Tirinhas para ensino de física: Energias Mecânicas

Tirinhas para o ensino de Física: Leis da dinâmica