Aventuras de Tintim: Ensino de Física e Alfabetização Científica
Aqui, vamos apresentar a dissertação de mestrado de Raquel Pinto de Oliveira Menezes Aventuras de Tintim: Ensino de Física e Alfabetização Científica apresentada apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática sob a supervisão da orientadora: Profa. Dra. Agnela da Silva Giusta e do co-orientador: Prof. Dr. Lev Vertchenko.
Raquel Pinto de Oliveira Menezes explicita que "este trabalho apresenta uma proposta, testada previamente, que visa a facilitar o processo de ensino-aprendizado, utilizando desenhos animados e revistas em quadrinhos do Tintim para o ensino de Física, especificamente sobre o tema Inércia. Nesse sentido, buscam-se aulas mais dinâmicas, mais interessantes e com maior participação dos alunos. Para tanto, em um primeiro momento, os desenhos animados são exibidos, de modo a estabelecer, entre a professora e os alunos, uma discussão sobre as principais cenas. Em seguida, os alunos leem as revistas em quadrinhos, com os mesmos episódios do desenho, para uma discussão em grupos e sob orientação da professora, acerca das cenas principais. Por ultimo, é aplicado aos alunos um questionário contendo questões relacionadas à Inércia. É importante ressaltar que este trabalho tem seu alicerce na teoria de desenvolvimento humano histórico-cultural de Vygotsky, na aprendizagem significativa de Ausubel, bem como na aprendizagem multimídia. Assim sendo, o produto construído para a aplicação da proposta contem informações referentes às etapas, ao tempo estabelecido e ao conteúdo de cada cena. Em relação às revistas em quadrinhos, têm-se duas tabelas, nas quais são destacadas as páginas e os quadrinhos que foram utilizados. Essa organização pretende facilitar o uso do material por outros professores de Física do Ensino Médio. Como consequência desta aplicação, as observações diárias e as respostas dos alunos, obtidas por meio do questionário, revelam que eles se sentem mais motivados e envolvidos nas aulas, apresentando um nível de aprendizagem superior, a ponto de perceberem como a Física está ligada a situações da sua realidade."
Texto extraído de: pucminas
Trecho de história em quadrinhos analisada pela pesquisadora
![]() |
Trecho Les aventures de Tintim - Rumo à Lua – Partes I e II - disponível em Acervo Hergé |
![]() | |
Trecho Les aventures de Tintim - Explorando a Lua – Partes I e II -
|
![]() |
Trecho da história em quadrinhos Explorando a Lua - disponível em: ACERVO HERGÈ |
![]() |
Trecho da história em quadrinhos - Rumo à Lua - disponível em: Acervo HERGÉ |
Conclusões da autora:
"Nesta pesquisa, foi proposta a elaboração e testagem de um material didático, com o uso de recursos multimídia que fazem parte do cotidiano dos alunos. Teve-se, por meio disso, a intenção de complementar o estudo do tema Inércia, o qual é, frequentemente, trabalhado de forma muito resumida nos livros de Física adotados no ensino médio. Tendo isso em vista e a partir da minha experiência docente, construi a ideia de usar desenhos animados e revistas em quadrinhos para a concretização desta proposta.
É oportuno recuperar que, da minha prática docente, como professora de Física, foi percebida a necessidade de realizar este trabalho, pois, apesar de já ter utilizado alguns recursos em sala de aula, diferentes dos empregados aqui, em muitas ocasiões, não era possível mobilizar todos os meus alunos em torno do conteúdo abordado.
Apenas quando ingressei no Mestrado de Ensino de Ciências e Matemática, e verticalizei minha formação, pude entender o motivo dessa situação incômoda com os alunos, percebendo que, se as informações fornecidas não estivessem alinhadas com o processo cognitivo dos alunos, a aprendizagem era prejudicada. De modo mais explicativo, compreendi que essa desconexão presenciada em minhas aulas devia-se ao fato de que eu estava oferecendo uma quantidade enorme de informações para os meus alunos. Como consequência, eles não aprendiam conforme o esperado. Até porque, na maioria das situações, não me preocupava em saber se o que eu ensinava estava ancorado nos conhecimentos prévios deles e em seus recursos cognitivos. À luz desta pesquisa, entendo que, provavelmente, essas eram as causas da falta de sucesso na aprendizagem.
Nessa direção, é visto, agora, que o uso dos desenhos animados e das histórias em quadrinhos é de grande relevância para incentivar os alunos, mobilizando-os para o aprendizado. Assim, essa iniciativa de diversificar a estrutura da aula (com desenhos animados, revistas em quadrinhos, discussões em grupo, etc.) foi decisiva para desfazer a monotonia e criar um ambiente pautado pelo interesse em aprender.
Aliás, não se pode negar que a utilização de recursos multimídia em sala de aula é uma realidade na sociedade atual. Sem excesso, é inconcebível uma escola que não faça uso dessas ferramentas tecnológicas, pois estas estão presentes em todas as nossas atividades, inclusive nas escolares. Por esse motivo, cada vez mais, os professores devem utilizar essas ferramentas em sua prática docente. Mesmo porque, com esse progressivo avanço tecnológico, os alunos estão, também, tendo mais oportunidades de acesso, recorrendo intensamente a essas novas tecnologias, Então, a fim de evitar um descompasso prejudicial ao processo de ensino, cabe, certamente, ao professor se inserir nesse “novo mundo”, tendo em vista que, segundo a concepção dos adolescentes, os locais e pessoas que não fazem uso dessas ferramentas são considerados atrasados e desinteressantes. Logo, as escolas devem adequar-se a essa nova realidade para, assim, aguçar o interesse e envolver os alunos no compromisso de ‘aprender para ser’.
Nesse contexto, é impossível pensar em ensino descartando recursos multimídia. Como já frisado, as imagens, os vídeos, as animações, os gráficos, as apresentações, as simulações, entre outros, são ferramentas que podem e devem aprimorar a nossa prática docente, tornando o aprendizado mais interessante e efetivo para os nossos alunos.
No bojo desses apontamentos esclarecedores, percebi que, quanto mais eu tornasse o aprendizado significativo para os meus alunos, considerando os seus conhecimentos prévios e as discussões em grupo, maior aproveitamento eles poderiam obter das informações fornecidas em sala de aula. Dessa forma, teve-se confirmada, novamente, a importância da utilização de recursos multimídia para um aprendizado muito mais eficaz.
A partir dessa constatação, comecei a estudar, com mais empenho, a aprendizagem significativa, de Ausubel, a teoria de desenvolvimento humano, de Vygotsky, e a aprendizagem multimídia. Desde então, foi percebida a pertinência e importância desse material que, por essas razões, foi definido como a base teórica da proposta aqui apresentada.
De fato, essas teorias ofereceram grandes contribuições para a elaboração e testagem desta proposta de ensino, pois tratam das mediações necessárias à aprendizagem e à formação do conhecimento, alinhando as novas informações ofertadas por recursos multimídia com o sistema cognitivo humano em seus diferentes momentos.
Além disso, é válido observar que a utilização dos princípios que compõem essas teorias se demonstrou eficaz quando defrontados com os dados coletados, visto que, tal qual percebido na prática, orientaram as ações de levantamento dos conhecimentos prévios do aluno para, neles, ancorar um novo conhecimento e obter-se uma aprendizagem significativa. Outros pontos de convergência entre a teoria apresentada e a prática da proposta de ensino defendida nesta pesquisa referem-se às discussões em grupos, envolvendo o pensamento de Vygotsky sobre a importância da mediação do professor e da contribuição dos alunos com maior nível de conhecimento para que ocorra a passagem da zona de desenvolvimento proximal para uma nova zona de desenvolvimento real de alunos com dificuldades de aprendizagem. Releva-se, ainda, a exploração do potencial dos recursos multimídia. Nesse escopo, é possível afirmar que o planejamento de uma aula ou de materiais didáticos que se paute nesses princípios abarca importantes instrumentos para uma aprendizagem mais eficiente.
Tanto isso é verdade que, após alguns meses de trabalho, alcançou-se o objetivo: a utilização de desenhos animados e de revistas em quadrinhos, para complementar a discussão sobre a Inércia, foi muito bem aceita pelos alunos e mostrou-se muito eficaz. Isso foi verificado por meio das respostas ao questionário e com base na superioridade da aprendizagem dos alunos que usaram o material complementar, quando comparados àqueles que não o experimentaram.
Portanto, a contribuição que este trabalho proporciona para a área de Ensino materializa-se em informações que podem ser utilizadas por outros professores de Física quando trabalharem com o tema Inércia. Nesse sentido, também podem fazer uso de recursos multimídia alinhados ao sistema cognitivo dos seus alunos, garantindo ou, pelo menos, elevando as chances de obtenção, por parte dos estudantes, de uma aprendizagem atraente e de boa qualidade.
Numa visão mais ampla, acredito que o conhecimento e a divulgação desta pesquisa e das teorias adotadas aqui são importantes para qualquer professor, de todas as disciplinas, uma vez que, ao conhecer os princípios das referidas teorias, possui diretrizes para planejar suas aulas, independente da área, e, assim, desenvolver materiais que recorram ao mesmo expediente defendido nesta proposta.
Ademais, pretende-se que esta ideia atue como alerta aos professores adeptos das aulas tradicionais, dos quais é esperada uma reflexão sobre a conduta ultrapassada que, em absoluto, visa à transmissão de quantidade enorme de informações, sob a obrigatoriedade de cumprir o programa das disciplinas, ministrando todos os conteúdos determinados.
Então, numa perspectiva condizente com a realidade do mundo, faz-se urgente o entendimento de que é possível tratar, em nosso caso, vários temas de Física através de recursos multimídia, especialmente os desenhos animados e as revistas em quadrinhos. Mesmo porque, utiliza-se o mesmo tempo das aulas tradicionais e, como importante diferença, o conteúdo torna-se bem mais significativo para os alunos.
Assim sendo, vale reafirmar que os materiais sugeridos aqui representam recursos de trabalho valiosos para os professores, no sentido de que despertam o interesse dos alunos, favorecem o desempenho destes e, finalmente, possibilitam uma aprendizagem incisiva e eficaz.
De modo pessoal, confesso que compreender, com mais profundidade, essas teorias possibilitou-me avaliar melhor as minhas aulas e os materiais didáticos escolhidos. Assim, certamente, tornei-me uma profissional mais preocupada com as restrições cognitivas dos meus alunos, buscando, sempre, ajudá-los nesse sentido. Desse modo, entendi que qualidade é, na maioria dos casos, mais importante do que quantidade, além da percepção de que os alunos apresentam limites os quais devem ser respeitados.
Não devo negar, também, que o trabalho de pesquisa em Ensino é muito gratificante, pois o que se analisa pode modificar a qualidade da educação, nossa relação com os alunos, a formação docente, entre outros.
Em face disso, ressalto que esse mestrado, em fase de conclusão, contribuiu para o meu enriquecimento profissional e pessoal, tornando melhor e mais interessante a minha prática docente. Por essa razão, espero que os materiais aqui apresentados possam contribuir, também, para que outros professores revejam seus pensamentos e ações, concedendo a devida importância ao uso de recursos multimídia em sala de aula, como aconteceu comigo."
Texto extraído de: pucminas