Raquel Menezes: As Aventuras de Tintim: Ensino de Física e Alfabetização Científica

Aventuras de Tintim: Ensino de Física e Alfabetização Científica

Raquel Pinto de Oliveira Menezes expressa em sua dissertação de Mestrado: O uso dos desenhos animados e das revistas em quadrinhos no ensino de Física: uma proposta para o ensino da inércia que vê, na utilização dos desenhos e das revistas em quadrinhos, uma maneira diferente de elaborar uma aula, articulando o saber da experiência vivida com o conhecimento científico. Com efeito, a monotonia perde o seu espaço, sendo despertado um maior interesse nos alunos pela aula. Haja vista que os desenhos mostram situações do dia a dia dos próprios educandos, as quais se inserem no contexto da Física. [...] Por isso, em seu trabanlo utiliza os quadrinhos do Tintim, da série As Aventuras de Tintim (no original francês, Les aventures de Tintin), criada, em 1929, pelo autor belga Georges Prosper Remi, mais conhecido como Hergé. O herói das séries é o personagem epônimo Tintim, um jovem repórter e viajante belga. Ele é auxiliado em suas aventuras desde o início por seu fiel cão Milu (Milou, em francês). Os dois apareceram pela primeira vez em 10 de janeiro de 1929, no Le Petit Vingtième, um suplemento do jornal Le Vingtième Siècle destinado ao público infantil. Mais tarde, o elenco foi expandido com a adição do Capitão Haddock, entre outros personagens pitorescos. Em especial, os quadrinhos: Rumo à Lua – Partes I e II, datadas de 1953; Explorando a Lua – Partes I e II, criadas em 1954, que tratam sobre o lançamento de um foguete tripulado à Lua. Por meio das datas das revistas, podemos verificar que foram escritas antes mesmo de o homem ter ido à Lua, em 20 de julho de 1969. Apesar disso, ao lê-las, percebe-se que são muito ricas em detalhes, como os testes das roupas utilizadas pelos astronautas, os pormenores apresentados a respeito da construção do foguete, além dos cálculos necessários para o mesmo chegar até a Lua, uma observação importante a ser feita a respeito das revistas em quadrinho da série As aventuras de Tintim, e que eles possuem várias cenas e situações que podem ser utilizadas para o Ensino de Física e de outras disciplinas.
Texto extraído de: http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/EnCiMat_MenezesRP_1.pdf

Trecho Les aventures de Tintim - Rumo à Lua – Partes I e II



Trecho Les aventures de Tintim -  Explorando a Lua – Partes I e II

Na mesma linha, ANA PAULA SIMONACI VALENTIM defende em sua dissertação de mestrado: A DIVULGAÇÃO CIENTIFICA NOS QUADRINHOS COMO OBJETO DE MEMÓRIA: o discurso do cientista em “As aventuras de Tintim” a importância em explicitar a imagem do cientista retratada nas histórias em quadrinhos. Por isso em seu estudo versa ao campo da memória, tendo em vista que parte do pressuposto de que o modo como o cientista é retratado nas HQs é uma maneira de construir/reforçar sua imagem no âmbito de sociedade. Admite-se que as HQs são objeto imagético cultural operador de memória social, podendo traduzir a visão de mundo de seu tempo, além de estar inserida como produto cultural no contexto dos Estudos Culturais Latino-Americanos. Este estudo interessa também no âmbito da divulgação científica, pois as HQs que falam de ciência servem como instrumento de divulgação científica. Assim, este trabalho objetiva compreender como a imagem do cientista vem se modificando ao longo da história das narrativas ficcionais e dos relatos a respeito dos cientistas, na tentativa de compreender como essa presença contribui para a construção de uma memória sobre ciência. Especificamente, o universo de análise constitui-se d”As aventuras de Tintim”, de Hergè, com seus 13 álbuns publicados entre 1929 e 1983, com enorme repercussão mundial. No Brasil, seus álbuns são publicados desde 1970 e contam com novas edições, ainda sendo comercializadas. O corpus constitui-se de dois álbuns, das edições brasileiras, de “Rumo à Lua” e “Explorando a Lua”. Á luz da Análise do Discurso Francesa, de Michel Pêcheux, o foco está no discurso do personagem Professor Trifólio Girassol que, na história selecionada, constrói um foguete para chegar até a Lua, junto com Tintim, Capitão Haddock e Milu. Este estudo visa contribuir tanto para o campo das histórias em quadrinhos, como para o campo da divulgação cientifica, e ainda para o campo da relação entre memória e linguagem. Apresenta ferramentas para análise de discurso de divulgação científica que podem ser utilizadas em outras histórias em quadrinhos. A autora destaca que nas histórias em quadrinhos, não raramente os cientistas são apresentados como gênios loucos, vilões ou heróis desastrados. Por exemplo, existe uma lista na Wikipédia chamada “Cientistas Loucos Ficcionais” relacionando os mais famosos cientistas tanto do cinema, vídeo game, quanto dos desenhos animados. Só na parte de histórias em quadrinhos, encontramos 42 personagens citados (sendo citadas apenas as histórias mais famosas). As histórias em quadrinhos são relevantes para o nosso estudo, porque, se constituem, ao mesmo tempo em que são constituídas por, representações imaginárias da sociedade em que são construídas, vindo a ser elemento importante para a construção de memória de diferentes grupos sociais.
Texto extraído de: http://www.memoriasocial.pro.br/documentos/Disserta%C3%A7%C3%B5es/Diss364.pdf



Trecho da história em quadrinhos - Rumo à Lua - disponível em: https://drive.google.com/file/d/1TCgEtDQLHqRfEZ9rTg0tJ4SHKsdXmuhp/view?usp=sharing

Trecho da história em quadrinhos Explorando a Lua - disponível em: https://drive.google.com/file/d/1d9_mDlF3fCRqpezWk5Q90JRnRpE2jjPY/view?usp=sharing

Histórias em Quadrinhos Hergé- Rumo à Lua & Explorando a Lua



Artigos sobre As aventuras de Tintim no ensino de Física

1) A VIAGEM DE TINTIM À LUA: A FÍSICA DE HERGÉ - Marcos Cesar Danhoni Neves  & Francesco Cordell

O presente artigo analisa dois gibis de Hergé, publicados no Brasil, em 1970 sobre a viagem à Lua (“Rumo à Lua” e “Explorando a Lua”), desenhados pelo autor em 1954. As duas obras antecipam a histórica viagem de Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins, no foguete Apollo 11 para a Lua em 1969. As análises mostram os erros e acertos de Hergé em sua ficção muito bem arquitetada numa magnífica aproximação entre arte e ciência. Não obstante a velha história deste quadrinho, as aventuras de Tintim fascinaram por várias décadas milhões de pessoas ao redor do mundo, sejam elas jovens ou adultas. Muito deste encanto se justifica devido ao fato de Hergé, seu autor (o nome verdadeiro dele era: Georges Prosper Remi), dedicar um grande trabalho detalhístico às histórias que inventava com boa Neves & Cordella Revista Valore, Volta Redonda, 4 (Edição Especial): 19-38. Dez/2019 20 possibilidade de verossimilhança e com grande acerto em relação aos conceitos físicos utilizados, como, por exemplo, nos quadrinhos “Rumo à Lua” e “Explorando a Lua” (HERGÉ, 1970a; 1970b). Nestas duas histórias aparecem muito os personagens Tintim, o Capitão Haddock e o Prof. Girassol. Este último representa o lado propriamente científico da história, dando credibilidade às situações que aparecerão no desenvolvimento do enredo imaginado por Hergé. É importante salientar aqui que os dois quadrinhos de Hergé analisados aqui foram idealizados e editados em 1954, portanto, quinze anos antes da chegada dos primeiros astronautas na Lua, sintetizados pelo feito dos astronautas Neil Armstrong, Buzz Aldrin (que tocaram o solo lunar) e Michael Collins (que pilotou o módulo orbital). Impossível dizer o quanto o gibi de Hergé influenciou gerações de jovens que tiveram contato com sua obra, mas é fácil perceber que sua ficção científica teria grande proximidade realista com os Projetos soviéticos e norte-americanos que se seguiriam nas décadas seguintes, especialmente o lançamento do Sputinik, o Vostok, a Soyus, os Projetos Mercury, Gemini e Apollo. 




2) A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DO DISCURSO SOBRE O CIENTISTA: METÁFORAS NA AVENTURA DE TINTIM “RUMO À LUA” - Ana Paula Simonaci Valentim
Neste artigo, pretende-se analisar as representações do cientista no universo das histórias em quadrinhos, utilizando como veículo as narrativas que envolvem o personagem Professor Trifólio Girassol, no álbum “As aventuras de Tintim - Rumo à Lua”, publicados por Hergé em 1954, com base nas metáforas utilizadas por um personagem considerado leigo em ciência, o Capitão Haddock. A representação do cientista nesse universo é marcada por figuras de loucos, gênios, distraídos, heróis ou, até, homens perigosos; é, portanto, uma imagem contraditória e complexa. Isto decorre do fato de que a ciência costuma ser retratada pelas artes, pelas mídias e pela literatura como uma aventura humana carregada de inquietações, rica de promessas e de perigos e fonte de um conhecimento objetivo e democrático, embora, ao mesmo tempo, místico e, aparentemente, inalcançável para a maioria das pessoas. As representações de cientistas, veiculadas pela divulgação científica em imagens e textos, nesse sentido, são reais tanto para a ciência quanto para o senso comum. São substituições do próprio cientista. A escolha de valorizar o estudo das representações sociais como forma analítica nas áreas da divulgação científica tem como base a crença de que essa valorização representa um avanço, significa efetuar um corte epistemológico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento de como a imagem da ciência se constrói no universo das histórias em quadrinhos. Neste artigo, pretende-se analisar as representações do cientista no universo das histórias em quadrinhos, utilizando como veículo as narrativas que envolvem o personagem Professor Trifólio Girassol, no álbum “As aventuras de Tintim - Rumo à Lua”, publicados por Hergé em 1954, com base nas metáforas utilizadas por um personagem considerado leigo em ciência, o Capitão Haddock. A representação do cientista nesse universo é marcada por figuras de loucos, gênios, distraídos, heróis ou, até, homens perigosos; é, portanto, uma imagem contraditória e complexa. Isto decorre do fato de que a ciência costuma ser retratada pelas artes, pelas mídias e pela literatura como uma aventura humana carregada de inquietações, rica de promessas e de perigos e fonte de um conhecimento objetivo e democrático, embora, ao mesmo tempo, místico e, aparentemente, inalcançável para a maioria das pessoas. As representações de cientistas, veiculadas pela divulgação científica em imagens e textos, nesse sentido, são reais tanto para a ciência quanto para o senso comum. São substituições do próprio cientista. A escolha de valorizar o estudo das representações sociais como forma analítica nas áreas da divulgação científica tem como base a crença de que essa valorização representa um avanço, significa efetuar um corte epistemológico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento de como a imagem da ciência se constrói no universo das histórias em quadrinhos.

 

3) ALTERNATIVAS DIDÁTICAS: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE QUÍMICA NUCLEAR - Rubens César Lopes Figueira & Eliana Nagamini

O Ensino de Química apresenta-se muitas vezes fundamentado na aplicação de fórmulas e leitura de símbolos químicos. Essa disciplina vem sofrendo nos últimos anos uma alteração na sua carga horária, influenciando totalmente a grade curricular. Neste contexto, encontrar formas alternativas que contemplem abordagens presentes no cotidiano é questão fundamental nos PCNs e um desafio para professores desta disciplina. Hoje os jovens estão acostumados com um fluxo de informações dinâmico, construído a partir da linguagem verbal e não-verbal, que impõe novas formas de apreensão do mundo e do saber. Assim, este trabalho pretende apresentar alternativas considerando essa realidade. Para isso tomaremos a Química Nuclear, conteúdo relevante devido as suas inúmeras aplicações e implicações políticos-ambientais. A proposta é operar com diferentes linguagens, como a poesia, a HQ e o vídeo, favorecendo a realização de trabalhos interdisciplinares e permitindo a construção de uma visão crítica sobre a aplicação da Química Nuclear. No estudo de Química Nuclear a compreensão das dimensões atômicas é de grande importância. O núcleo atômico, extremamente pequeno, mesmo em relação ao átomo, possui a energia utilizada nos diferentes processos nucleares. Desta forma, a visualização de um átomo seria ideal, no entanto, é impossível. Abstrair este conceito torna-se necessário, mas isto é uma dificuldade encontrada pelos alunos em qualquer nível, principalmente no nível médio. Assim, o uso de analogias como apresentado pela Figura 1, torna-se um recurso didático interessante e divertido, facilitando o aprendizado. Outra forma bastante interessante do uso de HQs pode ser exemplificada nas peripécias do personagem Tintin, narradas na HQ “As aventuras de Tintin”, obra de Hergé. As aventuras misturam ficção – não deixa de ser inventada – e dados da realidade, fruto de pesquisa detalhada sobre aspectos históricos, geográficos e científicos. Na Figura 2, temos a explicação do funcionamento de um reator nuclear e as possíveis reações dos elementos que o compõe. A utilização do 235U também é tratada nesta HQ. Pode-se identificar que a concentração deste isótopo é extremamente inferior a aquela utilizada em uma arma atômica. Há inclusive o detalhamento dos processos de fissão no reator, os quais são diminuídos pela utilização dos absorverdores de cádmio. O texto desenvolve de uma maneira eficiente o complexo funcionamento de um reator nuclear e tratando-se de uma HQ, torna-se, assim, um recurso alternativo e lúdico no ensino de Química Nuclear.



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