AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS ADAPTADAS COMO RECURSO PARA ENSINAR MATEMÁTICA PARA ALUNOS CEGOS E VIDENTES
Esta postagem tem como propósito difundir a dissertação de mestrado de Lessandra Marcelly, elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática – Área de Concentração em Ensino e Aprendizagem da Matemática e seus Fundamentos Filosófico- Científicos para obtenção do título de Mestre em Educação Matemática em parceria com a Orientadora: Profa. Dra. Miriam Godoy Penteado.
Segundo Lessandra Marcelly "esta dissertação apresenta uma pesquisa de mestrado na área da Educação Matemática cujo objetivo foi analisar o processo de construção e adaptação de uma História em Quadrinhos sobre Matemática para alunos cegos e videntes. No texto a revista é denominada História em Quadrinhos Adaptada – HQ-A. Para a realização da pesquisa buscou-se suporte teórico em trabalhos sobre Educação Inclusiva com ênfase na educação de cegos e sobre o uso educacional de histórias em quadrinhos. A abordagem metodológica é a de design social, considerando-se que o processo de construção contou com a participação de possíveis usuários. A HQ-A possui 76 páginas impressas em um papel A4 (140g) adequado para escrita e leitura manual do sistema braille e adaptada em relevo. Para as adaptações foram utilizadas uma máquina de escrever braille e uma carretilha de costura, e, para garantir uma leitura pelo tato, houve a ajuda de um jovem cego. Espera-se que este material seja utilizado como recurso de ensino em sala de aula por todos os alunos. No momento, considera-se duas alternativas para esse uso: a primeira que a HQ-A seja impressa por uma impressora braille e as adaptações das imagens feitas com texturas alternativas pelos próprios alunos, videntes e cegos trabalhando juntos. Isto pode ser feito na própria sala de aula com a parceria de um professor de artes, por exemplo. A segunda alternativa é que a HQ-A seja impressa numa impressora braille para ser utilizada por um usuário cego totalmente adaptada em relevo - imagens e texto - e a HQ-A a ser utilizada pelos estudantes videntes impressa em tinta."
Texto extraído de: repositorio unesp
Trecho de história em quadrinhos produzida pela autora para o contexto da pesquisa
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Trecho HQ TALES DE MILETO E AS PIRÂMIDES DO EGITO de Lessandra Marcelly - extraída de: repositorio unesp |
História em quadrinhos produzida pela autora para o contexto da pesquisa extraída de: repositorio unesp
Conclusões da autora
"Esta pesquisa teve como objetivo: descrever e discutir o processo de elaboração e adaptação de Histórias em Quadrinhos Adaptada (HQ-A) como recurso para o ensino da Matemática para alunos cegos e videntes. Após as discussões apresentadas nos capítulos anteriores, finalizo dando destaque para alguns aspectos que considero importantes no processo de construção da HQ-A. São eles: A estrutura sequencial da HQ-A; O processo manual de adaptação e a tecnologia utilizada; O uso da HQ-A por outros usuários como recurso educacional.
A estrutura sequencial da HQ-A: A HQ-A tem um formato esquadrinhado das histórias em quadrinhos em geral, ela combina texto com figuras com o objetivo de narrar uma estória relacionada com a Matemática. Seu enredo é narrado quadro a quadro por meio de figuras e textos. Com esta estrutura a HQ-A passa se tornar uma arte sequencial. Como todas as páginas foram numeradas em código braille e cada quadro pertenceu apenas em uma página, isto possibilitou que o quadro pudesse ser facilmente encontrado para uma retomada de leitura no caso de um leitor cego. Notei isto durante alguns momentos da adaptação em relevo da HQ-A que, o usuário quando precisava entender determinada página voltava em outras páginas anteriores para compreender a estória contada.
Percebi então que, por ter uma sequência de quadros, a história em quadrinhos adaptada favoreceu a retomada da leitura de qualquer ponto, fato que é muito importante para uma pessoa cega. E que, um texto sequencialmente escrito por quadros com estrutura de histórias em quadrinhos favoreceu a leitura e a compreensão do usuário deste material. Sendo assim, esta característica de “arte sequencial” nas histórias em quadrinhos acoplou fielmente para uma construção de um material que desde o inicio contemplava a ideia de construir uma revista em quadrinhos para ser lida por todos os tipos de leitores, sejam cegos ou videntes. É uma arte que conjuga texto e imagens com objetivo de narrar histórias dos mais variados gêneros e estilos.
O processo manual de adaptação e a tecnologia utilizada: Para construir a primeira versão em relevo de uma HQ-A contei apenas com uma máquina de escrever braille e uma carretilha de costura. Entretanto, pude perceber o quanto seria importante se dispuséssemos de uma impressora braille. Como foi mostrado nas Figuras 73 a 76 com uma impressora braille poderíamos construir diversos tipos de texturas e isso facilitaria no momento da leitura tátil de uma imagem presente na HQ-A. Outra possibilidade é que, talvez, uma impressora braile daria a forma em relevo de uma HQ-A em um tempo bem menor que a adaptação manual que fizemos. Entretanto, imprimir este material em uma impressora braille não foi possível devido ao alto custo financeiro. Mesmo com esta limitação, pude verificar que os meios utilizados nesta primeira versão da HQ-A foram suficientes para perceber que de fato as histórias em quadrinhos adaptadas são um material apropriado para leitores cegos ou videntes.
No entanto, no caso de se fazer várias cópias deste material para serem utilizados por outros usuários, seria interessante sua transcrição através de uma impressora braille.
O uso da HQ-A por outros usuários como recurso educacional: A minha pretensão é que este material seja utilizado como recurso de ensino em sala de aula por todos os alunos. No momento, considero duas alternativas para esse uso. A primeira seria aquela em que uma HQ-A fosse feita em uma impressora braille e as adaptações das imagens feitas com texturas alternativas pelos próprios alunos, videntes e cegos trabalhando juntos. Isto poderia ser feito na própria sala de aula com a parceria de um professor de artes, por exemplo. A segunda alternativa seria aquela em que a HQ-A fosse impressa numa impressora braille para ser utilizada por um usuário cego totalmente adaptada em relevo - imagens e texto - e a HQ-A a ser utilizada pelos estudantes videntes impressa em tinta. No momento da leitura do material, os alunos videntes poderiam ler junto com os alunos cegos. Conhecer a metodologia do design social foi de extrema importância. Pois, construir um material adaptado para ser utilizado por pessoas cegas é imprescindível contar com sua participação durante o processo de construção. Isto possibilitou perceber que é preciso oferecer ao cego as condições básicas para ele poder vir a decidir qual melhor condição de leitura pelo tato. E, esta metodologia, trouxe pontos significativos no momento da negociação sobre as decisões tomadas durante a produção.
A versão atual da História em Quadrinhos Adaptada poderá sofrer novas alterações na medida em que outros usuários poderão contribuir com sugestões para o seu aperfeiçoamento. Isto só poderá ser definido futuramente quando este material for utilizado em sala de aula. Nesta pesquisa foram dadas algumas contribuições e sugestões para auxiliar professores de alunos cegos. E, refletindo sobre o atendimento escolar destes estudantes, sugiro o uso de materiais adaptados para o ensino da Matemática. Durante a minha experiência em trabalhar com alunos cegos foi possível notar que seus problemas cognitivos, quando existem, são da mesma natureza das pessoas videntes. Acredito, portanto, que, através dos materiais adaptados é possível ensinar Matemática para estes estudantes e torná-los alunos inclusos de fato."
Texto extraído de: repositorio unesp