Maria Bethânia dos Santos: Histórias em quadrinhos produzidas por alunos de Ensino Médio

 Histórias em quadrinhos produzidas por alunos de Ensino Médio: identificando sentidos e indicadores de alfabetização científica

Aqui a proposta é apresentar a dissertação de mestrado de Maria Bethânia de Siqueira Leite Fochi dos Santos defendida perante o Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências, na área de concentração: Ensino e Aprendizagem sob a orientação da Profª Drª Isabel Cristina de Castro Monteiro intitulada Histórias em quadrinhos produzidas por alunos de Ensino Médio: identificando sentidos e indicadores de alfabetização científica.

Segundo Maria Bethânia de Siqueira Leite Fochi dos Santos "O ensino de Física, bem como de Ciências, enfrenta a realidade de falta de profissionais em muitas escolas do Estado de São Paulo; isso em um momento em que, mais do que nunca, a alfabetização científica se faz crucial para a inserção de cidadãos na sociedade. O presente estudo tem como objetivo analisar histórias em quadrinhos produzidas por alunos do terceiro ano Ensino Médio de uma escola pública rural localizada em um município do Vale do Paraíba, identificando quais sentidos emergem de seus discursos e indicadores de alfabetização científica. Os textos dos alunos têm como assunto uma atividade de demonstração experimental de Física, da qual os alunos participaram; a partir desses textos, usando a bibliografia que trata sobre a linguagem quadrinhística, faz-se uma caracterização dos textos e, a partir dos instrumentos da análise do discurso de linha francesa (Pechêux), observam-se quais efeitos de sentido emergem dos discursos dos alunos. Além disso, verificam-se quais são os indícios de alfabetização científica, segundo os critérios da NSTA (National Science Teacher Association). A partir de uma situação de aprendizagem da proposta curricular de Português, cujo enfoque é a produção de histórias em quadrinhos, os alunos deveriam desenvolver os seus textos a partir da atividade demonstrativa de Física, que ocorreu na própria escola. A partir do desenvolvimento de várias atividades que tiveram como objetivo apropriar os alunos da linguagem quadrinhística, ocorreu a atividade de produção de textos. Com as HQ produzidas, foi possível observar como ainda resiste a ideia de que os conhecimentos das Ciências são atrelados à sala de aula, sem muita aplicação no mundo externo, bem como questões relacionadas ao ensino tradicional e ao gênero nas ciências. Além disso, alguns textos permitem identificar alguns indicadores de alfabetização científica, enquanto outros mostram que esse processo não foi desenvolvido."

Texto extraído de Reposiórios Unifei

Tirinhas produzidas pelos estudantes no âmbito da pesquisa
Tira extraída de Reposiórios Unifei

Tira extraída de Reposiórios Unifei

Tira extraída de Reposiórios Unifei

Tira extraída de Reposiórios Unifei

Tira extraída de Reposiórios Unifei

Conclusões da autora

"Diversas têm sido as pesquisas que avaliam o impacto das HQ no processo de ensino-aprendizagem, em várias áreas do conhecimento. Dentre elas, estão as Ciências: há pesquisas que avaliam o caráter didático das HQ quando utilizadas em livros, em salas de aula, em atividades que envolvem conceitos científicos.
Entretanto, observando essas pesquisas, é possível identificar que citam algumas referências que tratam especificamente sobre a linguagem empregada no gênero HQ. Mas as pesquisas, em sua maioria, não exemplificam como essas obras podem explicar a linguagem usada nas histórias em quadrinhos. Assim, em um primeiro momento, fez-se o levantamento dessas obras para, depois, se fazer uma caracterização dos textos produzidos pelos alunos para esta pesquisa. Deste modo, pretende-se mostrar como professores que trabalham com HQ em sala de aula – sejam eles de quaisquer áreas – podem caracterizar os textos, juntamente com seus alunos, tornando a abordagem do gênero ainda mais rica Esta pesquisa se desenvolveu no sentido de verificar as possibilidades de trabalho conjunto entre Física e Português. A prática foi possibilitada, de um lado pelo trabalho com gêneros textuais orais e escritos e, por outro, com o uso de atividades de experimentação. É interessante notar que diversos estudos desenvolvidos, especialmente sobre a alfabetização científica, colocam que desenvolvê-la deve ser uma atividade compartilhada entre professores de diversas áreas; assim, compreende-se que a área de linguagens pode contribuir sob diversos aspectos, a partir do trabalho de leitura e produção de textos, instigando os alunos a desenvolverem reflexões importantes que levariam ao desenvolvimento de habilidades relacionadas à alfabetização científica. Um outro aspecto que merece ser destacado é a respeito de algumas exigências que nosso tempo impõe aos professores: as aulas devem ser cada vez mais atrativas e significativas aos alunos. Dia após dia, fica evidente que aulas mal planejadas, descontextualizadas, destituídas de sentido, não são capazes de competir com as tão atrativas mídias portáteis. Assim, o uso de textos como as HQ se mostra mais atrativo, prende a atenção dos alunos e promove uma leitura mais dinâmica e prazerosa. Por outro lado, professores bem preparados para lidarem com essa linguagem podem mostrar aos alunos recursos, efeitos e mensagens que muitas vezes passam despercebidas. Mais do que isso, os textos podem ser excelentes pontos de partida para que se desenvolvam reflexões importantes a respeito de uma série de assuntos que fazem parte da vida no contexto pós-tecnológico.
A forma como as atividades foram planejadas foi essencial para que se obtivessem os textos, que são o objeto de análise desta pesquisa. Em um primeiro momento, percebeu-se a necessidade de estabelecer, em sala de aula, um primeiro contato com textos do gênero HQ. Para que os alunos tivessem um fiel retrato da realidade, foram levadas todas as obras do gênero que faziam parte do acervo da biblioteca escolar para a sala de aula, de modo que eles percebessem o que pode ser escrito na linguagem da história em quadrinhos: desde revistas comerciais, como A Turma da Mônica, de Maurício de Souza, passando por adaptações de grandes clássicos da literatura universal, pelo folclore brasileiro, até revistas que tratam de assuntos importantes para a sociedade, como uma elaborada por Ziraldo que trata sobre o autismo. Essa proposta mostrou para os alunos a importância da linguagem visual e, segundo eles mesmos, ler HQ é mais prazeroso. Em um segundo momento, foram privilegiadas as características das HQ: os alunos foram levados a identificar os recursos e a refletir sobre os seus efeitos nos textos que haviam lido. Depois, foram instigados a produzirem uma HQ com tema livre, em que puderam escrever sobre o que desejassem. Nessa etapa, que privilegiou a prática ao permitir a produção de uma HQ, ficou evidente como os alunos desconheciam os recursos do gênero. A única coisa de que sabiam era dos balões, mas mesmo assim, sabiam apenas de um terço das possibilidades e desconheciam os outros recursos, evidenciando a abordagem incompleta a respeito desse gênero.
O terceiro momento foi o em que participaram da feira itinerante de Física. De início, eles se mostraram tímidos, de modo que os monitores tiveram que dar explicações sobre os experimentos. Entretanto, aos poucos eles foram se acostumando e as explicações foram substituídas pelas interações com os monitores e com os experimentos. Todos os alunos interagiram com todos os experimentos e os monitores, bem como a professora, ofereceram explicações sobre cada um deles. Entretanto, ficou evidente o interesse dos alunos pela base giratória sobre momento angular: eles ficaram realmente intrigados com o fato de braços abertos ou fechados interferirem na velocidade de rotação dos corpos. Levar a feira itinerante à escola foi fundamental para a coleta de dados, já que a pretensão seria identificar como os alunos colocariam esse evento em seus textos e quais percepções ideológicas viriam a transparecer em seus discursos, a respeito do ensino de Ciências. A produção de histórias em quadrinhos foi pertinente porque, além de possibilitar uma percepção a respeito das relações que se estabelecem entre alunos e professores / monitores, permitiu a identificação de alguns aspectos relacionados ao ensino de Ciências.
A análise de dados permite notar que conceitos das ciências estão atrelados ao espaço escolar: os alunos não conseguem aplicar o que aprendem na sala de aula na realidade. Se há um indicador da alfabetização científica que pressupõe que os alunos sejam capazes de relacionar construções científicas com a sociedade, isso aparece somente em um texto. Em todos os outros, a explicação de um fenômeno científico ou de um conceito é um fim em si mesma. Essa grave lacuna do ensino brasileiro, que persiste nos dias atuais, fica evidente na escolha dos alunos em situar a maioria das narrativas em um espaço escolar ou que retoma alguma ação própria dos espaços escolarizados. A consequência mais óbvia desse esvaziamento das relações escolares também aparece nos textos, quando as personagens abandonam os experimentos para buscarem atividades mais “atrativas” ou usam de ironia (silenciada) para os classificar.
Entretanto, o uso de algumas expressões e termos próprios da Física permitiu identificar que os alunos consideram o vocabulário das ciências, ainda que ele esteja vinculado, como ocorre na maioria dos textos em que se percebeu essa ocorrência, ao monitor. Dos cinco textos produzidos, dois não apresentaram nenhum traço discursivo que permitisse identificar como indicador de alfabetização científica, de acordo com os propostos pela NSTA. Isso não significa que os alunos não saibam, por exemplo, identificar as relações da ciência com a sociedade, que não conheçam a natureza das ciências, ou os termos científicos, por exemplo. Mas evidencia que nesses textos, eles não foram capazes de criar situações que abrangessem os conceitos que foram contemplados pela feira itinerante de Física, o que talvez mostre que a atividade talvez devesse ter a interferência da professora, no sentido de orientar um planejamento mais estratégico do texto, no sentido de que ele permanecesse nos seus limites temáticos. Entretanto, esses “erros” também são significativos, se compreendemos que o próprio aluno pode estar, no momento de produção textual, ressignificando seus conhecimentos e sua visão de mundo.
Um outro aspecto que merece ser retomado, embora não seja o foco desta pesquisa, foi a questão de gênero nas ciências: a opção de colocar basicamente figuras masculinas protagonizando as narrativas mostra como, ideologicamente está cristalizada a percepção de que a ciência é um espaço da atividade humana ocupado majoritariamente por homens.
Diante da análise desenvolvida, em que se fez um levantamento a respeito das ideologias em relação ao ensino de ciências, ou mesmo de alguns indicadores de alfabetização científica, percebe-se que essa análise talvez não fosse conduzida da mesma forma se assumida por uma outra perspectiva, que não essa em que se propõe uma abordagem conjunta com a área de linguagens. Desta forma, chega-se a uma pergunta final: Em que aspecto o ensino de Língua Portuguesa pode dialogar com algumas questões importantes sobre o ensino de Ciências? Finalmente, respondendo a essa questão, percebe-se que a partir da coleta e da análise dos dados fica evidente que o trabalho com textos – seja a partir da sua leitura ou da sua produção – pode tanto auxiliar no processo de alfabetização científica, levantando reflexões e questionamentos, quanto permitir a identificação de sentidos e ideologias que emergem dos discursos. Essas ideologias evidenciam o que precisa ser desenvolvido, aprimorado ou mesmo mudado no processo de ensino-aprendizagem."

Texto extraído de Reposiórios Unifei

Dissertação


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