Física com Martins e Eu

Física com Martins e Eu

Física com Martins e Eu- Trecho extraído de https://drive.google.com/file/d/1nLUNpQWVj6JbV3Fn2K_xoOEPV-4BO5ao/view?usp=sharing

No ensino de física, a inserção das histórias em quadrinhos no cotidiano escolar não se deu em formato diferente; o livro didático foi a sua porta de entrada. Contudo, até o final da década de 1960, os livros didáticos de física mantinham sua dinâmica tradicional, recheada de equações, com textos sintéticos e ilustrações de caráter técnico. Este panorama apresentou suas primeiras nuances de mudanças a partir da publicação do livro didático Física com Martins e Eu (MARTINS, 2015). Este livro foi articulado pelo professor Pierre Lucie, da Pontífice Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC- RJ) em parceria com o cartunista Henfil e contou com dois volumes. O volume I sobre Cinemática e o volume II sobre Dinâmica das Partículas, publicados respectivamente nos anos de 1969 e 1971 (BEZERRA, 2016). Ao lançar o livro didático Física com Martins e Eu, Pierre Lucie almejava ensinar física de uma forma mais descontraída. Para tal empreitada, Lucie apostou em uma obra didática centrada em histórias em quadrinho em um período em que associar esta linguagem ao ensino física era inimaginável. Os motivos que levaram Lucie a optar pelas histórias em quadrinhos estavam em seu posicionamento didático metodológico de bases piagetianas e na sua proximidade aos levantes culturais europeus (BARROS; ELIA, 2008). À vista disso, Bezerra (2006) afirma que o livro didático em questão pode ser interpretado como revolucionário frente à época de sua publicação. Isto se dá por duas razões: primeiro, pela forma como os idealizadores apresentam a física, a partir de dinâmicas mais dialógicas e abordagens que se distanciavam da matematização excessiva. Segundo, centra-se no uso das histórias em quadrinhos para alcançar, como característica, a dialogia (BEZERRA, 2016). Entretanto, Resende (2008) destaca que ambos os fatores que atribuem a esta obra seu caráter revolucionário, também podem ser interpretados como os que culminaram na rejeição deste material pelo público consumidor e levaram Lucie e Henfil a abandonar o projeto antes de sua finalização. De acordo com este autor, Lucie e Henfil tinham como meta abordar todas as temáticas da física escolar, desde a mecânica até o eletromagnetismo. Contudo, foram compelidos a abandonar o projeto por conta do desconforto que a obra gerou entre professores, pais e estudantes, uma vez que “o livro foi feito para ser usado em um cursinho de vestibular [...] e o aluno médio queria mesmo era ser treinado para passar” (p. 97). Em contrapartida, Martins (2015) destaca que embora o livro didático Física com Martins e Eu não tenha dado o retorno esperado no momento de sua publicação, foi uma obra que com apenas uma edição teve o alcance temporal que muitas das obras didáticas bem-sucedidas no período não obtiveram. Em certa medida, este autor defende que a obra em questão não se perdeu no tempo por conta dos fatores que Bezerra (2016) aponta como revolucionários e, concomitantemente, Rezende (2008) indica como motivos do fracasso de público da obra. Em outras palavras, "[...] o uso da linguagem de histórias em quadrinhos, tratou-se de uma inovação. Foi certamente a obra pioneira no Brasil, ao utilizar esse tipo de recurso. E a combinação entre os talentos de Pierre Lucie e Henfil foi tão feliz, que essa obra terá um valor permanente, podendo ser útil às gerações atuais e às futuras" (MARTINS, 2015, p. 03). Em suma, esta obra foi a primeira iniciativa em prol da construção de uma relação entre as histórias em quadrinhos e o ensino da física. Neste quesito, Física com Martins e Eu foi assertivo não apenas pelo dinamismo do livro, mas pela marca que deixou no mercado editorial. Esta marca foi tal que, ao final da década de 1970, os grandes autores de livros didáticos de física tinham aderido em alguma medida à ideia de ilustrar e/ou explicar conceitos usando a linguagem quadrinhográfica. Entretanto, esta adesão foi bem comedida se comparada à do livro de Lucie e esteve ligada a duas preocupações imediatas: a primeira, relacionada ao medo de que as coleções didáticas fossem rejeitadas pelo público consumidor (VERGUEIRO, 2006b); a outra, conectada à intencionalidade dos autores em aderir às histórias em quadrinhos sem abrir mão das dinâmicas mais tradicionais dos livros didáticos de física.
Física com Martins e Eu- Trecho extraído de https://drive.google.com/file/d/13Ngl46GOg315Pz332Nidc1gCA75HYo14/view?usp=sharing

BARROS, S. d. S.; ELIA, M. Pierre Lucie: Professor e educador de cientistas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2010.
BELEI, R. A. et. al. O uso de entrevista, observação e vídeo-gravação em pesquisa qualitativa. Cadernos de Educação - FaE/PPGE/UFPel, v. 30, n. 10, 2008.
BEZERRA, E. V. L. O Livro Didático de Pierre Lucie. 2016. Especialização (TCC), Escola de Educação e Humanidades, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2016.
LUCIE, P.; HENFIL. Física com Martins e Eu: Introdução à Física Cinemática. Rio de Janeiro: GB/PUC-RJ, 1969.
LUCIE, P.; HENFIL. Física com Martins e Eu: Dinâmica das Partículas. Rio de Janeiro: GB/PUC-RJ, 1971.
MARTINS, R. D. A. “Física com Martins e eu” por Pierre Lucie, com ilustrações de Henfil. 2015. Disponível em: <www.academia.edu/4811797>. Acesso em: ago. 2017.
REZENDE, S. M. Pierre e Eu. In: BARROS, S. d. S.; ELIA, M. (Ed.). Pierre Lucie: Professor e educador de cientistas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2010.
VERGUEIRO, W. O Uso das HQs no Ensino. In: RAMA, A; VERGUEIRO, W. (org.) Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de aula. São Paulo: Contexto, 2006a.
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VERGUEIRO, W. A atualidade das histórias em quadrinhos no Brasil: a busca de um novo público, História, imagem e narrativas, v. 3, n. 5, 2007.





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