Coleção Biografia em Quadrinhos - série Cientistas
Durante boa parte do século XX, as histórias em quadrinhos foram tomadas por uma parcela significativa do público adulto a partir do estigma da marginalidade e este estigma incutiu a ideia de que a história em quadrinhos[...] afastava as crianças de objetivos mais nobres –como conhecimento do mundo dos livros, e o estudo de assuntos sérios –que causava prejuízo ao rendimento escolar e poderia gerar ainda consequências mais aterradoras, como o embotamento do raciocínio lógico, a dificuldade para apreensão de ideias abstratas e o mergulho em um ambiente imaginativo prejudicial ao relacionamento social e afetivo, [...] as histórias em quadrinhos quase se tornaram as responsáveis por todos os males do mundo, inimigas do ensino e da aprendizagem, corruptora das inocentes mentes de seus indefesos leitores. Enquanto uma parcela da sociedade interpretava as histórias em quadrinhos como uma mídia de menor valor que deveria ser controlada, censurada ou até mesmo proibida, outra engajava-se pela liberdade de ler, produzir e comercializá-las. As primeiras mobilizações nesta direção partiram das editoras que, naquele momento, não estavam preocupadas com a liberdade de expressão ou de manifestação cultural, mas estavam focadas em garantir a comercialização de revistas em quadrinhos, em especial as histórias em quadrinhos estrangeiras de aventura e super-heróis que correspondiam ao montante mais expressivo das vendas.Esse era o nicho, que na maior parte dos casos, estava sob constante ataque. Para desacreditar as críticas direcionadas às histórias em quadrinhos, em especial às importadas, as editoras buscaram alternativas para dissociá-las dos rótulos de corruptora e inimiga da educação formal. Nesta via, enquanto algumas editoras utilizavam a estratégia de desmoralização do discurso dos opositores, outras buscavam modificar a percepção de pais e professores a respeito das histórias em quadrinhos na educação. As editoras que apostaram na segunda alternativa, ainda na década de 1950, produziram histórias em quadrinhos científicas, religiosas, históricas, biográficas e com adaptações da literatura universal [...]. No Brasil, as publicações mais expressivas, nesta linha, foram as da Editora EBAL, que publicou,desde a década de 1950 até a sua extinção, coleções voltadas à disseminação de conhecimentos eruditos, dentre as quais destacam-se as revistas científicas da Coleção Biografia em Quadrinhos que buscou retratar a trajetória de cientistas como Marie Curie, Guglielmo Marconi, Albert Einstein, Osvaldo Cruz e Santos Dumont;
Texto extraído de:
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/81/81131/tde-16072018-135554/publico/Edimara_Fernandes_Vieira.pdf
A Editora Ebal apresentava uma grande preocupação em atender aos pedidos e à opinião do público leitor, como podemos identificar neste trecho escrito pelo editor na revista nº 106, de 1. º de setembro de 1954: "Conforme prometêramos, aqui estamos para trazer uma notícia: no próximo número faremos a apresentação de uma seção, intitulada Relendo a História do Brasil. Não pense vocês que o seu aspecto será o de um livro didático, escolar, cheio de datas e de nomes. Será algo diferente de tudo que vocês já leram sobre nossa História pátria, tendo o autor, João Guimarães, pessoa altamente reputada na Imprensa carioca, buscando abordar temas que realmente interessam tanto ao estudante quanto ao leitor casual. A preocupação do escritor é mostrar a vocês pontos controvertidos na nossa História, acerca dos quais têm surgido polêmicas ardorosas entre historiadores, polêmicas essas de uma importância, pois frequentemente redundam em estudos profundíssimos, que vêm, destarte, esclarecer equívocos cometidos há muitos anos, e que são, realmente, difíceis de reconhecer, dada a poeira do tempos que os ocultam. Podemos afiançar que tudo o que o autor denega em Relendo a História do Brasil foi fruto de pesquisas, de leituras, de reflexões, pelas quais João Guimarães assume inteira responsabilidade e se oferece para sanar possíveis dúvidas que venham a surgir no decorrer da seção". Nessa mesma edição, podemos encontrar a adaptação para quadrinhos da vida do jogador Wassil, do América do Rio. A narrativa procura passar todos os dados do personagem, mas, como outros quadrinhos da época, se trata de um texto ilustrado e não de uma história em quadrinhos. Não havia uma narrativa dinâmica como aquelas apresentadas pelos heróis norte-americanos, a exemplo do Falcão Negro, personagem que podemos verificar também nessa mesma edição da revista. Pelo texto do editor podemos verificar a preocupação que os editores tinham no trabalho com a História do Brasil. Mesmo assumindo o papel de inovadores, existe uma busca no sentido de legitimar o trabalho, que obviamente “engessava” a criatividade no roteiro e na narrativa visual. Além de Grandes Figuras do Brasil, a editora lançou Grandes Figuras em Quadrinhos e Biografias em Quadrinhos, publicações que foram reeditadas nas décadas de 1960 e 1970, quando a editora entrou em declínio.
Texto extraído de:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27152/tde-11052009-125553/publico/4847068.pdf
Biografia em Quadrinhos -Volume 05: Marie Curie (1959)
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Trecho: Biografia em Quadrinhos -Volume 05: Marie Curie (1959)
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Biografia em Quadrinhos -Volume 07: Guglielmo Marconi (1959)
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Trecho: Biografia em Quadrinhos -Volume 07: Guglielmo Marconi (1959)
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Biografia em Quadrinhos -Volume 10: Albert Einstein (1961)
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Trecho: Biografia em Quadrinhos -Volume 10: Albert Einstein (1961) |
Biografia em Quadrinhos -Volume 12: Henry Ford (1960)
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Trecho: Biografia em Quadrinhos -Volume 12: Henry Ford (1960) |
Grande Figuras em Quadrinhos -Volume 2: Osvaldo Cruz(1958)
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Trecho: Grande Figuras em Quadrinhos -Volume 2: Osvaldo Cruz (1958) |
Grande Figuras em Quadrinhos -Volume 20: Santos Dumont (1961)
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Trecho: Grande Figuras em Quadrinhos -Volume 20: Santos Dumont (1961) |
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